sexta-feira, 29 de abril de 2011

















‘Ela me xingava de um nome diferente a cada pincelada que eu dava no cabelo dela, mas também não conseguia parar de rir. Me sentei na frente dela pra ficar mais perto da lata. Eu tava dando risada alto enquanto tentava desviar do pincel dela. Minha regata branca tinha sido perfeitamente escolhida, porque não ia usa-la nunca mais com aquele monte de manchas pretas.

Sem querer, pincelei a bochecha dela, e ela arregalou os olhos.

Alícia: No rosto é mancada!
Eu: Olha meu nariz, caralho!

Ela parou de tentar me deixar mais preto que a parede, e voltou a rir. Era uma risada muito boa, cara. Tipo ela ria quando a gente ficava sozinhos antes. Definitivamente aquela tarde já tinha alcançado o seu propósito, que era de fazer tudo voltar ao que era antes, com a gente se sentindo a vontade um do lado do outro. Melhor que isso até: se sentindo bem.

Ela tinha os dentes pequenos e bem certos, e o olho muito azul. A marca de tinta ficava perdida no rosto branquinho dela. Acho que ela percebeu que eu brisei olhando pra ela, e parou de dar risada aos poucos. Encostei a mão no rosto dela pra limpar, e deixa-la ainda mais bonita. Ela olhou pra minha boca enquanto eu fazia isso. Não pensei duas vezes, não pensei em nada, só beijei ela o mais rápido que eu pude, antes que acontecesse algo que a fizesse me odiar de novo.

Beijei ela bem devagar, fazendo carinho no rosto, na nuca, no cabelo liso e macio dela. Por um segundo tivesse a sensação de que ela sorria enquanto me beijava, e se sentou mais perto de mim, pra que eu pudesse abraça-la. Ela tinha um beijo bom, no tempo certo, e usava um perfume gostoso, que não me deixava enjoado quando misturado com o cheiro do cabelo dela. Tem guria que perde a noção e quase sufoca a gente nessas horas.

A música acabou, e eu já nem me lembro mais qual foi a próxima, porque quando vi já tava deitado em cima dela, mais preocupado com outra coisa. Mordi o lábio dela de leve e estiquei a cabeça pra trás, abrindo os olhos pra ver se tava tudo bem. Ela continuou de olhos fechados, só sorriu pra mim, e percorreu as mãos pelas minhas costas. A Alícia tinha uma bela duma cara de safada se tu parasse pra reparar, por causa das sobrancelhas que tavam sempre arqueadas, ou sei lá o que, mas ao mesmo tempo, era muito bonitinha, principalmente quando sorria quando tu não tava esperando.

Abracei ela e a levei até a cama, seria tenso fazer no chão quando se tinha uma cama bem do lado. Ficamos mais um bom tempo nos beijando. O papel do cara é de sempre tentar, sempre, e o da guria é o de não deixar, se quiser que ele a leve a sério. Ela infelizmente aprendeu bem a lição de casa, e não fizemos nada além de nos beijar, apesar de eu estar morrendo de vontade. Parei de beija-la aos poucos, até que conseguisse voltar a pensar com a cabeça de cima e pudesse continuar do lado dela numa boa.

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